Sentir o calor de uma paleta de cores quentes
usadas em um quadro
com pinceladas curtas e com movimento de Claude Monet
feito com total habilidade de colorir mesmo sem saber pintar
provocando internamente o estímulo de processos dinâmicos
abundante passagem de gás oxigênio pelos alvéolos
formando uma densidade no parênquima pulmonar
customizando as heterogêneas sensações
em formato de árvore brônquica
com harmoniosas tonalidades de cores dentro de si
alcançando
ponto de ebulição
Abraço
Cicatrização de ferida que doía
enquanto sangrava sem estancamento
cessamento de hemorragia que acidificava
corroendo lentamente, como óxido nítrico,
tornando-se capaz de preencher
meu corpo
com bombeamento sanguíneo
que agora pulsa no ritmo da tua
frequência cardíaca
Germinação
Entre duas ruas paralelas
nossas conexões transversais aproximaram
o contato de nossos lábios e de nossas mãos
que se transformaram em uma arte de expressão geométrica
com traços de cubismo:
vários ângulos com elevadas conformações
vários vértices com encaixes de grandes estruturações
aprofundamos sem anestesia
permitindo-nos sentir cada instante
difundindo lentamente
em uma complexidade de sentimentos superior
aos abismos de corações e de mentes vazias
nossa troca de olhares se manifestou surrealista:
teu cheiro penetrando em minhas vísceras
depositando em meu tecido adiposo
desregulando minha frequência cardíaca
com a profunda vibração de tuas cordas vocais
abraçando meu miocárdio
nossos corpos em contato se tornaram um único abrigo
nossa confluência de ideias formou fortalezas de harmonia
nossa taxa metabólica igualou nossas funções vitais
e fomos capazes de rejuvenescer
simultaneamente
lado a lado
enquanto me abraçava revitalizando
cada célula corporal,
ultrapassávamos os limites para mergulhos recreacionais
molhamos as raízes ao toque do mar
secamos as folhas à luz do sol
pulsantes:
amadurecemos em frutos
Natureza humana
A tendência humana
é o descarte em ritmo alarmante
relações insignificantes preenchidas de objetos obsoletos
enquanto a natureza liberta
como uma válvula de escape
para o contato com um ecossistema inconstante
envolvido por reflexos pulsantes de energia positiva
humanos utilizam
repelentes naturais providos de plantas medicinais
em paisagens esculpidas por erosões eólicas e hídricas
enquanto gases metanos de geleiras tendem a difundirem
junto à essência que os conectam à riqueza da terra
e à sua transformação
para a beleza além da imagem
e o tempo
antes carente de propósitos e ausente de conquistas
torna-se suprido de finalidades e
responsável por progressos
reservando a leveza de cada eternidade do instante
porém, imersos
no ciclo natural da vida
esquecem da insignificância da superfluidade
e tornam a refletir, tarde,
já em decomposição
Ventania
Invadiu-me preenchendo intensamente
cada espaço corporal
transbordando lentamente suspiros
que suplicavam sonância vocal
umidificando esporadicamente meus lábios
sem pedir licença.
sua alta intensidade sentimental
foi transparecida
sem submissão à ardente hipnose
da atual modernidade líquida
enquanto expandia vagarosamente
suprimindo comportamentos fúteis
e reconciliando nossos corações consistentes
em meio às
ventanias emocionais
acalentou-me através de olhares calorosos
com os dias dançando
silenciosamente pela imensidão
e as noites construindo
labirintos sem finais
pedindo demasia afetiva.
Metafísica
Somos uma raridade pensante
constantemente em rotação
diante da vastidão cósmica
cordas vibram em diferentes padrões
gravitando e unificando-se em uma única teoria
unindo a Teoria da relatividade com
a Teoria Quântica de Einstein
enquanto divulgações científicas de Carl Sagan
permitem a vulgarização científica
implementando uma reflexão despretensiosa
de tudo e de todos
somos uma galáxia que cria e cuida de ideias
com forças que pluralizam curvas geodésicas
conectando uns aos outros via wi-fi
mercúrio-vênus-terra-marte
a internet é o novo big bang,
uma enorme explosão continuamente em expansão
e nossos sentimentos um buraco negro,
onde o tempo para e o espaço deixa de existir
possuindo singularidade gravitacional
24 horas e 365 dias
abandonamos o geocentrismo
enquanto o egocentrismo se torna infindável
e nossas concepções de universo modificam com
a transição do tempo
personificado em Chronos,
sem que nossas hipocrisias e nossos egoísmos
amores-próprios-Rousseaunos
desintegrem dentro de nós mesmos
estamos cheios de mentes vazias fazendo sinapses
sem repulsa à crueldade humana,
confluindo em direção à irracionalidade
afirmando-nos primatas com nossos instintos animais
abominando a razão e a ética em declínio
do bom convívio
somos uma raridade pensante
constantemente em rotação
diante da vastidão cósmica
Catarse visceral
Na sola dos teus pés
encontro-me
pisoteada
dizimando as afeições
putrificando as saídas da máquina desejante
conspurcando os sonhos
infeccionando as feridas
que deixaste invadirem meus tecidos corporais
em processo de supuração,
ao passo que parasitas
multiplicaram por divisão binária
destruindo minhas hemácias
que um dia te transportaram, meu oxigênio
Hoje, corpo sem órgão
sem amor
no céu da tua boca
encontro-me
bucólica
versificando a vida
hipersensibilizando o riso
entorpecendo os estorvos
homogeneizando o tempo
até alcançar resiliência
e transbordar estonteantemente afeto
capaz de transmiti-lo a ti no vácuo,
como uma impetuosa
onda eletromagnética oscilando em fases,
enquanto regurgito
minha ilha de sentimentos
decorrente do
pequeno sequestro de vitalidade social,
e a transformo em arquipélago
para vivermos intensamente
o compartilhamento
de energia vital
Amanhã, com amor
Desarmonia vital
O medo nos faz ouvir cada segundo desafinado
em doce consonância
como ‘um samba de uma nota só’
cuja Bossa Nova degustara
de Tom Jobim
possibilita-nos identificar a melodia de vocais assustados
que atingem uma escala de tenor
um Freddie Mercury
cantando em escala soprano
dando voz interior aos órgãos
em alerta
cada percepção atípica no nervo auditivo
torna-se tumultuosa
conforme um Rock Progressivo Instrumental
ou um Blues
difícil de tocar, mas fácil de sentir
para Jimi Hendrix
nos quais ruídos soam em simultânea
harmonia
convergindo em desespero
suprimindo nosso autocontrole
em breve inconsonância
nossa falta de reação aparenta
um drama musical encenado
uma ópera de Vivaldi
reinaugurando com orquestra de cenografia policial
em meio
a vestuários medievais e a atuações saturadas de
fadiga existencial
o acorde final é um efêmero
susto rasteiro
que condensa em neblina cada movimento
sem prudência
fazendo perder o ritmo de um padrão sonoro
impedindo-nos finalizar qualquer ação
desarmonia
Criptografia
Decifra-me
no excesso de lirismo,
em versos
na escassez de verborragia,
em libras
na ausência de luz,
em braile
com o coração salgado
imerso em hipertensão,
forçando intensamente impulso
sanguíneo por todo
o corpo
cuja expansão de
desejo
danifica artérias
que sofrem constrição
enquanto descriptografa a leitura
da nossa química sentimental,
como enxofre e mercúrio
em ativa corrosão com
volatilidade inerte
Itinerário neoplatônico
Olhe a lua, meu bem
olhe como ela influencia as marés
tsunami sombria
encaixotando a reflexão do brilho lunar
e desviando esse nosso comum ponto de paz da minha visão central
túrbida, perco-me
em redemoinhos versificados de Ezra Pound, Envoi
naufrageio na minha oceânica solitude
submersa e fria
encontro-me em solidificação
desprendida das geleiras do nosso próprio oceano ártico
vagando, só, iceberg
pela corrente marítima ao fluxo das águas que me afastam de você
hipotermia
apenas olhe a lua, meu bem
olhe como ela reflete sua imagem verossímil:
traços e linhas da sua imperfeita simetria facial,
como coordenadas da minha bússola vital
profundidade e posição do seu calor corporal,
como ponteiros do meu astrolábio que apontam
seu norte
seu sul
seu leste
nosso oeste
onde o amor ancora em desatino
e me guia, como Ginsberg, construindo uma ponte
entre o Modernismo de Ezra e o Surrealismo francês
ao meu inefável ponto de paz